A Dificuldade de Entender: Mortos para o Pecado, Mas Ainda Lutando


Os capítulos 6, 7 e 8 de Romanos são verdadeiras colunas da fé cristã. Qualquer crente que tenha um bom entendimento desses capítulos dificilmente será levado por ondas de doutrinas enganosas. Por isso, é essencial dedicar tempo para explorá-los profundamente. Neste estudo, apresentamos uma das questões mais intrigantes que surgem ao longo desses capítulos, começando pelo capítulo 6, onde Paulo nos desafia com declarações que parecem paradoxais e, ao mesmo tempo, carregadas de verdades transformadoras.

Logo de início, Paulo aborda uma pergunta inquietante: Se estamos sob a graça, devemos continuar pecando para que a graça aumente? A resposta é clara e contundente: “De modo nenhum! Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Romanos 6:2). Aqui, ele introduz uma realidade profunda: estamos mortos para o pecado. No entanto, essa afirmação provoca uma série de reflexões. O que significa, na prática, estar morto para o pecado, enquanto ainda enfrentamos lutas diárias contra ele?

Essa tensão se desenrola nos capítulos seguintes. Em Romanos 7, Paulo expõe o conflito interno de quem deseja fazer o bem, mas percebe outra lei atuando nos membros do corpo, levando-o ao pecado. “Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim” (Romanos 7:20). E, finalmente, no capítulo 8, encontramos a gloriosa resolução: “A lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8:2).

Esses capítulos nos conduzem por um caminho intenso e transformador, revelando tanto a profundidade de nossa nova identidade em Cristo quanto a batalha que enfrentamos enquanto vivemos neste mundo. Cada versículo está impregnado de verdades profundas que exigem atenção e reflexão cuidadosa. Por isso, iremos avançar devagar, buscando responder a algumas das perguntas que surgem ao longo dessa jornada. Nosso objetivo é extrair o máximo de entendimento e aplicação prática, permitindo que essas verdades fortaleçam nossa fé e nos equipem para vivermos uma vida vitoriosa, firmados na graça e na justiça de Deus.

Morremos em Cristo: Uma União Transformadora

Para entender como morremos para o pecado, Paulo apresenta uma série de argumentos lógicos. Em Romanos 6:3-4, ele afirma: “Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida”.

Aqui, o termo “batizados” não se refere ao batismo com água, mas a uma imersão espiritual em Cristo. Estar “batizado em Cristo” significa estar unido a Ele em Sua morte, sepultamento e ressurreição. Esse é um ato divino e misterioso que transforma nossa relação com o pecado. Como Paulo afirma em Gálatas 2:20: “Fui crucificado com Cristo; logo, ja não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. Essa união é o fundamento de nossa nova vida.

Paulo reforça essa ideia em Colossenses 3:3: “Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus”. Em outras palavras, nossa velha identidade, escravizada pelo pecado, morreu, e agora vivemos em um novo ambiente espiritual.

Uma Nova Realidade: Mortos para o Pecado, Vivos para Deus

Nossa união com Cristo não apenas muda nossa relação com o pecado, mas também estabelece uma nova direção para nossas vidas. Paulo afirma: “Ora, se morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos” (Romanos 6:8). A ressurreição de Cristo é a garantia de que nós também podemos viver uma nova vida, marcada pela santidade.

No entanto, isso não significa que o pecado desapareceu completamente. Em 1 João 3:9, lemos: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus”. Embora ainda possamos cair em pecado, nossa nova identidade impede que vivamos em uma prática constante de pecado.

Respostas Práticas: Conhecer, Considerar, Apresentar

Diante dessa verdade transformadora, qual deve ser nossa resposta? Paulo oferece três passos claros:

  1. Conhecer a verdade: Em Romanos 6:3, 6 e 9, ele usa expressões como “Não sabeis” e “Sabendo isto”. O primeiro passo para viver essa nova realidade é conhecer profundamente o que Deus fez por nós em Cristo. Devemos compreender que estamos mortos para o pecado e vivos para Deus.

  2. Considerar como verdade: Em Romanos 6:11, Paulo escreve: “Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus”. O termo “considerai” (do grego logizomai) significa calcular ou afirmar algo como verdade. Devemos viver com a convicção de que não somos mais escravos do pecado.

  3. Apresentar-se a Deus: Finalmente, em Romanos 6:13, ele nos exorta: “Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça”. Esse é um chamado para uma rendição total, entregando nossos pensamentos, desejos e ações ao Senhor.

Conclusão: Uma Vida de Santidade

Como crentes, nós fomos transformados pela graça de Deus. Nossa antiga identidade morreu com Cristo, e agora vivemos em novidade de vida. Embora a luta contra o pecado permaneça, nossa nova natureza nos capacita a viver para Deus.

Essa verdade nos leva a um momento de autoexame: nossas vidas refletem a realidade de que estamos mortos para o pecado? Se nossos desejos e aspirações estão alinhados com a santidade, isso é evidência da obra transformadora de Deus em nós. Como Paulo conclui, devemos diariamente nos render à nova vida que temos em Cristo, rejeitando o pecado e vivendo como instrumentos de justiça para a glória de Deus.

Oremos

Tu que sondas os corações e revelas a profundidade de Teus mistérios por meio de Tua Palavra, nós nos prostramos diante de Ti com reverência e temor, conscientes de nossa total dependência da Tua graça para compreender as riquezas insondáveis do Evangelho.

Te louvamos pelos capítulos 6, 7 e 8 de Romanos, pilares imutáveis de nossa fé, que nos conduzem ao âmago de Tua verdade. Concede-nos, Senhor, o discernimento espiritual para que possamos conhecer profundamente o que fizeste por nós em Cristo. Que a certeza de estarmos mortos para o pecado e vivos para Deus seja gravada em nossos corações como um selo eterno.

Ó Pai, ajuda-nos a levar a sério o estudo de Tua Palavra, pois sem ela estamos perdidos em nossas próprias ideias e vulneráveis às ondas de doutrinas enganosas. Dá-nos fome e sede pela Tua verdade, para que conheçamos, consideremos e vivamos segundo a Tua santa vontade. Ensina-nos a refletir diariamente sobre nossa união com Cristo – crucificados com Ele, sepultados com Ele, e ressuscitados para uma nova vida em santidade.

Senhor, reconhecemos que, embora estejamos mortos para o pecado, a batalha contra a carne ainda persiste. Por isso, clamamos por Tua ajuda divina. Fortalece-nos no Espírito Santo para rejeitar as ofertas do pecado e apresentar nossos corpos como instrumentos de justiça a Ti. Que nossa vida inteira – pensamentos, palavras e ações – seja um hino de adoração à Tua glória.

Ó Deus, que estas verdades nos moldem, que nossas aspirações sejam conformadas à santidade, e que a Tua obra transformadora seja evidente em nós. Que Cristo viva em nós, e que, ao seguirmos este caminho de novidade de vida, possamos ser luz em um mundo mergulhado em trevas.

Tudo isso pedimos com humildade e gratidão, no nome precioso e poderoso de Teu Filho, Jesus Cristo, aquele que nos livrou da lei do pecado e da morte.

Amém.

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