Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber

Em Atos 20:35, somos ensinados uma verdade que desafia a lógica comum: “É mais abençoado dar do que receber”. No entanto, uma das maiores dificuldades que enfrentamos é compreender que a essência da vida cristã está no serviço ao próximo. Quando falhamos em entender isso, caímos na armadilha de sempre buscar receber, o que pode gerar "doenças espirituais", como apatia, orgulho e a incapacidade de nos entregarmos como sacrifícios vivos a Deus.

Com uma postura de superioridade e coração endurecido, muitas vezes julgamos os outros, acreditando que faríamos melhor caso estivéssemos no lugar deles. Esse comportamento não apenas alimenta nosso orgulho, mas também nos distancia do chamado de Cristo para viver uma vida de humildade e serviço.

Esta semana, uma experiência especial trouxe à tona uma oportunidade de refletir sobre o princípio de servir ao próximo, conforme nos ensina a Palavra de Deus. Enquanto trabalhava, um senhor para quem eu estava prestando serviços fez um pedido inesperado: entregou-me uma quantidade de gorros de frio e cem dólares em notas de cinco dólares, pedindo que eu os distribuísse aos moradores de rua nos locais onde estivesse trabalhando. Esse gesto desse homem, acredito, foi inspirado por Deus, pois quem mais colocaria alguém em um desafio assim? Então, comecei a enxergar os invisíveis ao meu redor — dezenas de pessoas, em todos os lugares — pessoas que, muitas vezes, passam despercebidas em nosso cotidiano, especialmente no meu.

Essa experiência tem sido profundamente impactante e tem me deixado envergonhado por não ter notado antes a quantidade de pessoas que sofrem diariamente ao meu redor. Distribuir aquilo que aquele homem me confiou foi apenas o início de algo que não esquecerei tão cedo. Mais do que um ato pontual, foi uma oportunidade de perceber a magnitude do sofrimento humano e como Deus nos chama a servi-Lo através do cuidado aos necessitados.

Ao conectar essa experiência com os capítulos 1 a 11 de Romanos, somos lembrados da grandiosidade da compaixão e da graça de Deus. Esses capítulos nos revelam o plano soberano de redenção e nos levam à humildade diante do Seu amor imensurável. No entanto, o apelo de Paulo em Romanos 12 para a renovação da mente e a entrega no altar somente se torna real quando compreendemos que existimos para servir, e não para ser servidos. Essa compreensão transforma nossa vida e nos impulsiona a viver de maneira que glorifique a Deus.

Essa experiência também se alinha perfeitamente com o estudo de Romanos 12, trazendo uma renovação espiritual e um chamado à prática do amor sincero e do serviço humilde. Agradeço a Deus por essa oportunidade e pela maneira como Ele conduz momentos que nos ajudam a viver os princípios de Sua Palavra de forma concreta e transformadora.

Desenvolvimento

1. A Base: Uma Vida de Entrega Total a Deus

“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:1-2).

Antes de qualquer coisa, somos chamados a nos entregar completamente a Deus. Ser um sacrifício vivo significa renunciar às próprias vontades e desejos egoístas para viver segundo o Seu plano. Uma mente renovada é essencial para entender e cumprir a vontade de Deus. Essa renovação nos ajuda a abandonar o comodismo e a apatia, levando-nos a uma vida ativa de serviço ao próximo.

2. A Humildade Necessária para o Serviço

"Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo mais do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um" (Romanos 12:3).

O orgulho é um dos maiores obstáculos ao serviço. Quando nos colocamos acima de certos afazeres ou nos achamos superiores, bloqueamos nossa capacidade de servir no Reino de Deus. Tive a oportunidade de refletir sobre isso a partir de uma experiência com gorros e dinheiro para os moradores de rua. Deus, em Sua misericórdia, usou aquele momento para me ensinar sobre a importância de um coração humilde e disposto a servir. Confesso que isso não é algo natural em mim, tanto que fiquei impressionado com a enorme quantidade de pessoas que tenho visto. Não conseguimos nos oferecer no altar de Deus como sacrifício vivo. Só quando compreendemos que fomos criados para servir, e não para ser servidos, é que conseguimos experimentar plenamente a boa, perfeita e agradável vontade de Deus.

3. A Diversidade e a Unidade no Corpo de Cristo

“Assim, como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente uns dos outros” (Romanos 12:4-5).

A experiência de distribuir os gorros me ajudou a perceber que cada um de nós tem uma função única no corpo de Cristo. Enquanto uns pregam, outros ensinam, outros servem de maneira prática. Deus usa essas diferenças para Sua glória. Ao reconhecer isso, aprendemos a valorizar as contribuições de cada irmão e a trabalhar em unidade para o Reino.

4. O Uso Prático dos Dons Espirituais

“Se é profecia, seja segundo a proporção da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com zelo; o que exerce misericórdia, com alegria” (Romanos 12:6-8). Deus nos chama a usar nossos dons de maneira prática e intencional.

Conclusão

Romanos 12 nos desafia a sair de uma perspectiva egoísta e a abraçar uma vida de entrega, humildade e serviço prático. Deus nos convida a enxergar os invisíveis, a cuidar dos necessitados e a viver como sacrifícios vivos, para Sua glória.

Que possamos aprender a dar mais do que receber, lembrando que tudo o que temos vem de Deus. Ao usarmos nossos dons e recursos para servir, experimentamos a alegria de fazer parte do Seu plano redentor. Afinal, aquele que nos chamou é fiel e completará a boa obra que começou em nós (Filipenses 1:6).

Ó Deus Santo e Misericordioso,
Nos achegamos a Ti com corações quebrantados, reconhecendo nossa falha em ver o próximo como Tu os vês. Tantas vezes nos cegamos pelos ídolos que erguemos em nossos corações — o orgulho, a avareza, e o egoísmo — e assim, falhamos em perceber as necessidades ao nosso redor. Tu nos ensinaste, em Atos 20:35, que é mais bem-aventurada coisa dar do que receber, mas nos distraímos com a busca incessante por aquilo que podemos acumular, ao invés de nos dedicarmos ao serviço do próximo.

Senhor, perdoa-nos por nossa cegueira espiritual. Somos tantas vezes como aqueles que passaram ao lado do necessitado sem lhe estender a mão, distraídos pelo barulho de nossos próprios desejos. Mas Tu, em Tua graça, nos abençoaste com a oportunidade de servir, e ainda assim, muitos de nós, com corações endurecidos, hesitamos em entregar nossa vida como sacrifício vivo, santo e agradável a Ti.

Reconhecemos que, como pecadores, nossa tendência é focar em nós mesmos e em nosso conforto. Nos confundem os ídolos que nos prometem felicidade sem exigir de nós a verdadeira transformação. Contudo, Tu, em Tua infinita paciência, nos chamaste para a renovação da mente, para que possamos ver além do nosso umbigo, para que possamos ver o sofrimento dos que estão ao nosso redor e responder com o coração de Cristo.

Ó Senhor, que possamos, com humildade, olhar para os necessitados não como objetos de nossa caridade, mas como irmãos e irmãs que Tu colocaste em nosso caminho. Dá-nos olhos para ver, mãos para ajudar, e corações dispostos a servir. Que possamos abandonar qualquer pensamento de superioridade que nos distancie do Teu chamado, e, em vez disso, nos colocar em disposição para ser sacrifícios vivos, para vivermos a Tua boa, agradável e perfeita vontade.

Ensina-nos a não ser cegos, mas a sermos luz em um mundo tão necessitado de Teu amor. Que possamos ser instrumentos de Tua compaixão, espalhando Tua graça onde quer que estejamos, e sempre lembrando que, ao servirmos ao próximo, estamos servindo a Ti.

Por Cristo, nosso Salvador e Senhor, oramos. Amém.