A doutrina da eleição é, sem dúvida, uma das mais criticadas e incompreendidas de toda a Bíblia. Durante muitos anos, vivi em crise com este ensinamento, pois, como seres humanos, temos uma tendência natural a moldar Deus à nossa imagem, limitá-lo à nossa lógica e tentar compreendê-lo com nossas capacidades limitadas. No entanto, essa tentativa de reduzir o infinito ao finito é, de fato, um caminho para a frustração.
Este ensino nos desafia a abandonar o desejo de controle e a ilusão de que podemos compreender plenamente os mistérios de Deus. Recordo-me, ao meditar em Romanos 9, enfrentava um profundo conflito interno. A ideia de que Deus tem o direito soberano de escolher, endurecer e agir segundo o Seu propósito parecia, à primeira vista, uma realidade dura. Minhas emoções resistiam, mas o texto permanecia claro e inegável. Com o tempo, porém, fui levado a enxergar que a doutrina da eleição não contradiz a justiça divina, mas revela Sua soberania e graça, que ultrapassam infinitamente nossa compreensão.
A incredulidade de Israel é uma questão que inquieta muitos cristãos: como poderia o povo escolhido por Deus rejeitar o Messias prometido? Isso não comprometeria o plano divino? O apóstolo Paulo aborda essa complexa questão com profundidade e clareza em Romanos 9:17-24, utilizando argumentos poderosos e verdades bíblicas para reafirmar a justiça e a soberania de Deus. Ao longo desta reflexão, exploraremos o texto e analisaremos os pontos centrais apresentados por Paulo, buscando compreender como a eleição é, na verdade, uma demonstração do plano perfeito e gracioso de Deus.
1. Deus é injusto?
Paulo começa antecipando a acusação que poderia ser feita contra Deus: "Que diremos, pois? Haverá injustiça da parte de Deus?" (Romanos 9:14). A pergunta sugere que, se Deus escolhe alguns e rejeita outros, Ele estaria sendo injusto.
Resposta bíblica:
A resposta de Paulo é clara: “De maneira nenhuma!” (Romanos 9:14). Deus declara em Êxodo 33:19: "Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e compadecer-me-ei de quem eu me compadecer." Em outras palavras, Deus tem o direito soberano de agir conforme Seu próprio plano e propósito. Sua justiça não é determinada por padrões humanos, mas por Sua própria natureza santa e perfeita.
2. Por que Deus endurece o coração de alguns?
Paulo cita o exemplo de Faraó: "Pois a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra" (Romanos 9:17). Isso levanta outra pergunta: se Deus endurece corações, como isso pode ser justo?
Resposta bíblica:
Paulo responde que Deus é soberano: "Logo, ele tem misericórdia de quem quer e endurece a quem quer" (Romanos 9:18). Faraó foi levantado para cumprir o propósito de Deus, e mesmo seu coração endurecido serviu para demonstrar o poder e a glória de Deus.
3. Por que Deus ainda culpa o homem, se ninguém pode resistir à Sua vontade?
"Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?" (Romanos 9:19). Essa é a pergunta que surge naturalmente: se tudo está sob o controle de Deus, como Ele pode culpar os homens por suas ações?
Resposta bíblica:
Paulo confronta essa objeção com uma resposta firme: "Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Porventura o que está sendo formado dirá ao que o formou: Por que me fizeste assim?" (Romanos 9:20). Aqui, Paulo usa uma analogia do oleiro e do barro, tirada de Isaías 29:16 e Jeremias 18:6. Deus é o Oleiro soberano, que tem o direito de fazer de um mesmo barro um vaso para honra e outro para desonra.
4. Qual é o propósito de Deus em suportar os "vasos de ira"?
Paulo explica: "E que diremos, se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a destruição?" (Romanos 9:22). Deus tem um propósito maior em Sua paciência para com os "vasos de ira".
Resposta bíblica:
O objetivo é revelar Sua glória através dos "vasos de misericórdia": "para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para glória" (Romanos 9:23). Deus usa tanto a justiça quanto a misericórdia para revelar quem Ele é, para que Seu nome seja glorificado em toda a terra.
Conclusão
A incredulidade de Israel não é inconsistente com o plano de Deus. Pelo contrário, tudo faz parte do Seu propósito soberano de revelar Sua glória, seja através da justiça ou da misericórdia. Como Paulo diz em Romanos 11:33: "Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis, os seus caminhos!"
Assim, diante de Deus, a resposta não é questionar Sua justiça, mas humildemente reconhecer Sua soberania e glorificar Seu santo nome.

Ó Deus Altíssimo e Soberano,
Tu que governas todas as coisas com perfeição,
que reinas sobre as nações e dispões dos corações humanos
segundo o conselho da Tua própria vontade.
Nós, criaturas limitadas, ousamos questionar-Te,
mas a Tua Palavra nos confronta:
“Ó homem, quem é você para replicar a Deus?"
Ensina-nos a nos calar diante da Tua soberania.
Perdoa-nos, Senhor, por tentar moldar-Te à nossa imagem,
encaixotando-Te em nossa razão finita.
Reconhecemos que nossos pensamentos são pequenos
diante da Tua sabedoria infinita.
Tu tens o direito de fazer de um mesmo barro
um vaso para honra e outro para desonra,
e ainda assim, Tu ages com justiça e misericórdia.
Ó Oleiro divino,
Tu formaste Faraó para mostrar o Teu poder
e anunciar o Teu nome por toda a terra.
Quem somos nós para questionar o Teu propósito?
Tu suportas com paciência os vasos de ira,
preparados para a destruição,
a fim de revelar as riquezas da Tua glória
nos vasos de misericórdia.
Senhor, somos vasos em Tuas mãos.
Que possamos aceitar humildemente o nosso lugar
como obra da Tua criação.
Ajuda-nos a confiar em Teus caminhos inescrutáveis,
e a reconhecer que “o homem não viverá de respostas humanas,
mas da Tua santa Palavra."
Humildemente nos prostramos diante de Ti,
reconhecendo que a Tua glória
é revelada tanto na justiça quanto na misericórdia.
Que nossos corações endurecidos sejam quebrantados,
e que possamos glorificar-Te como o Deus Santo e Justo.
Ó profundidade das riquezas da Tua sabedoria e conhecimento!
Quão insondáveis são os Teus juízos
e quão inescrutáveis, os Teus caminhos!
Para Ti, ó Deus eterno, seja toda a glória, honra e louvor
hoje e para sempre.
Amém.
Amém🙏🏼
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