Os bonzinhos estão ferrados! É isso?



Não sei se você já recebeu alguma mensagem, direta ou indireta, através das redes sociais — Facebook, Instagram ou outras — dizendo algo assim:

"Os bonzinhos estão ferrados."

Se fosse na pegada de um coach, poderia soar assim:

"Os bonzinhos estão condenados à mediocridade! Quem não se posiciona é engolido pelo sistema!"

Já na linha de alguns pregadores, talvez escutássemos algo como:

"Os bonzinhos se lascam porque confundem bondade com falta de coragem. Jesus era bom, mas nunca foi bobo!"

Bem, não podemos simplesmente descartar essas afirmações, pois há um grão de verdade nelas. No entanto, discursos como esses, sejam de coaches ou de certos pregadores, muitas vezes escondem uma realidade crucial: servir, abrir mão e amar o outro são princípios essenciais do Evangelho.

Muitos desses discursos incentivam o egoísmo e um sentimento de superioridade, promovendo a ideia de que devemos nos cercar apenas de pessoas "melhores" para benefício próprio. Isso, no entanto, contrasta fortemente com Romanos 15:1-8, onde Paulo ensina sobre o sacrifício pelo bem do próximo — especialmente pelos mais fracos.

Se seguimos essa mentalidade de buscar apenas conexões vantajosas, então o ensino de Paulo não encontra espaço em nossa teologia. Afinal, os "fracos" seriam aqueles que, na lógica do mundo, não têm muito a oferecer. Mas veja como essa ideia é contrária ao que a Escritura ensina:

"Cada um de nós deve agradar ao próximo para o bem dele, a fim de edificá-lo." (Romanos 15:2)

Esse princípio não se encaixa na mentalidade egoísta de muitos que, embora tenham aparência de piedade, negam o poder de Deus em suas vidas.

Se fôssemos simplesmente "bonzinhos", segundo o padrão do mundo, seríamos passivos e coniventes com a injustiça. Mas a bondade bíblica é diferente: ela é ativa, poderosa e transformadora. Ela promove unidade sem comprometer a verdade.

E já que estamos em Romanos 15 — e no estudo anterior falamos sobre "Em Defesa da Ousadia" — agora, estudaremos os versículos 1-8 sob o tema: "Agradando Uns aos Outros por Causa de Cristo".

A palavra "agradar" parece contrária à ideia de ousadia, não é mesmo? Parece que devemos ceder a verdade para agradar as pessoas. Mas será que é isso mesmo?

O Verdadeiro Significado de Agradar Uns aos Outros No início de Romanos 15, Paulo nos ensina que os mais fortes na fé devem suportar as fraquezas dos mais fracos e não agradar a si mesmos (Romanos 15:1).

 Imagine que você é um cristão maduro e conhece um irmão recém-convertido. Antes de sua conversão, ele fazia parte de uma cultura onde se sacrificavam animais aos deuses. Agora, ele se entregou a Cristo, mas ainda carrega resquícios de sua antiga crença. Um dia, ao visitar a casa de outro irmão na fé, você percebe que ele está comendo carne sacrificada a ídolos. Você sabe que, espiritualmente, essa carne não tem poder algum, pois "o ídolo nada é" (1 Coríntios 8:4). No entanto, por consideração à consciência do novo convertido, você escolhe não comer para não ser pedra de tropeço.

Trazendo para um contexto mais próximo de nós, imagine que você viaja para o Nordeste do Brasil e encontra uma oferenda a Iemanjá – doces, comidas e salgados – sendo vendida ao redor. Você percebe mulheres vestidas de branco agradecendo à entidade e lhe oferecendo presentes. Como alguém do Centro-Oeste, onde essa prática não é comum, você se sente desconfortável. Porém, os cristãos daquela região, que já convivem com essa cultura, enxergam a situação de outra forma e não se sentem afetados.

É exatamente esse tipo de dilema que Paulo está abordando em Romanos 15. O ponto central não é se a comida em si tem algum poder, mas sim a sensibilidade para não ferir a consciência de um irmão na fé. Em vez de viver para agradar a nós mesmos, devemos buscar edificar uns aos outros, tendo Cristo como nosso maior exemplo de renúncia e amor.

Aqui, "agradar" não significa comprometer a verdade, mas sim agir de maneira que edifique os outros espiritualmente.

Afinal, o próprio Cristo é o nosso exemplo supremo: "Pois também Cristo não agradou a si mesmo; antes, como está escrito: 'Os insultos dos que te insultam caíram sobre mim'" (Romanos 15:3). Ele não buscou o seu próprio conforto, mas entregou-se por nós.

A unidade da igreja é fundamental para Deus, e, para alcançá-la, precisamos de seis motivações espirituais:

  1. Consideração pelos Outros "Portanto, cada um de nós deve agradar ao próximo para o seu bem, a fim de edificá-lo." (Romanos 15:2).

Agradar aqui é no sentido de construir o outro na fé, não bajular ou ceder ao erro. Se nossos atos ajudam um irmão a crescer espiritualmente, estamos cumprindo esse chamado.

  1. Cristo como Nosso Exemplo Cristo é o maior exemplo de abnegação. Ele não veio para buscar sua própria vontade, mas para fazer a vontade do Pai (João 6:38). Ele suportou afrontas para trazer redenção.

  2. Confirmação das Escrituras "Pois tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do encorajamento das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança." (Romanos 15:4).

A Palavra de Deus é nosso guia para viver em unidade. Ela nos ensina paciência e encorajamento para suportarmos uns aos outros.

  1. Conformidade com Deus "Que o Deus que concede perseverança e encorajamento lhes dê um mesmo modo de pensar, de acordo com Cristo Jesus." (Romanos 15:5).

O desejo de Deus é que a igreja tenha uma só mente e um só propósito, refletindo a unidade que há na Trindade.

  1. Crescimento na Glória de Deus "Para que com um só coração e uma só voz vocês glorifiquem ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo." (Romanos 15:6).

Quando vivemos em unidade, glorificamos a Deus. Nossa comunhão é um testemunho poderoso ao mundo.

  1. Convicção do Ministério de Cristo Cristo veio para cumprir as promessas feitas a Israel e para trazer os gentios à salvação, unindo todos sob um só Senhor. "Por isso, entre os gentios, cantarei louvores ao teu nome." (Romanos 15:9).

Conclusão Agradar aos outros por causa de Cristo não significa ser fraco ou condescendente com o erro. Significa viver de modo que edifique a fé dos irmãos, seguindo o exemplo de Cristo.


Ó Deus de infinita graça e misericórdia,
Tu que não buscaste agradar a Ti mesmo, mas entregaste Teu Filho por nós,
ensina-nos a viver conforme o exemplo de Cristo,
renunciando ao egoísmo e abraçando o amor sacrificial.

Livra-nos do engano dos homens que exaltam a força própria,
que incentivam o orgulho e a busca pela superioridade,
mas escondem a verdade de que servir é abrir mão,
e amar é suportar as fraquezas uns dos outros.

Senhor, molda em nós um coração disposto a agradar o próximo para sua edificação,
não por vaidade ou interesse, mas pela glória do Teu nome.
Que nossas palavras e ações promovam unidade,
e que não troquemos a ousadia do Evangelho
pela dureza do coração ou pela busca de reconhecimento.

Que a nossa bondade não seja fraca, mas firme;
não seja condescendente com o erro, mas cheia de graça e verdade.
Que a nossa fé nos ensine a suportar os mais fracos,
a carregar os fardos dos irmãos,
e a caminhar em obediência, sem buscar nossa própria glória.

Ó Pai, concede-nos um espírito humilde,
para que, em todas as coisas, vivamos para glorificar a Ti,
com um só coração e uma só voz,
como Igreja unida sob o senhorio de Cristo.

Em nome do Teu Filho,
nosso Redentor e exemplo supremo de abnegação,
oramos.

Amém.


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