Primeiro Século, Primeiras Fake News: Os Gnósticos Mentirosos! (Parte 2)
Estamos há alguns dias estudando sobre a formação do cânon bíblico. No momento, estamos focados em sua inspiração e, hoje, continuaremos explorando esse assunto, especialmente como a percepção das pessoas pode ser influenciada por diferentes correntes filosóficas às quais são expostas.
Lembrei-me de um episódio ocorrido durante um discipulado e um estudo bíblico que conduzi em 2010. Uma pessoa que eu estava discipulando surpreendeu-me com uma afirmação inesperada. Após ter contato com um material sobre o cristianismo e aceitar o desafio de ler as Escrituras, ela voltou no encontro seguinte e disse:
"Bem, esse Deus que você me mostrou aqui nas Escrituras é um Deus exigente; Ele quer ser o centro da atenção de tudo."
Fiquei perplexo. Não estava preparado para esse tipo de afirmação e, por um instante, quase respondi impulsivamente: "Mas é claro! Você está falando do Criador do universo, que não deve nada a nós. Sim, Ele deve ser o centro de tudo em nossa vida!"
Outro caso semelhante aconteceu em um pequeno grupo de estudo bíblico. Pedi a um participante que lesse o livro de Isaías, e, depois de refletir sobre o texto, ele voltou e disse:
"Não, não concordo com essa maldade desse Deus."
Essas reações revelam como nossa compreensão de Deus pode ser moldada por crenças e influências externas. A maneira como enxergamos as Escrituras pode ser impactada por nossa formação, experiências e, principalmente, pela disposição do coração em buscar a verdade.
Já compartilhei antes que, no meu trabalho, visito dezenas de casas todos as semanas. Fazendo as contas, nos últimos 30 anos, foram milhares de lares. Sempre procuro deixar uma semente do evangelho (quando possível) e, ao longo desse tempo, encontrei incontáveis pessoas espiritualistas—gente que crê na existência de algo maior. Isso confirma o que a Bíblia ensina: Deus colocou no coração do homem um senso de eternidade.
Em Eclesiastes 3:11, lemos:
“Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração deles, sem que o homem possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.”
Jesus também declarou:
“Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mateus 22:14).
Isso nos mostra que há aqueles que buscam as coisas espirituais—pessoas que foram chamadas—mas cujo interesse nunca ultrapassa a superficialidade. O divino não faz parte de suas vidas, embora gostem de conversas espiritualistas. Há também outro grupo que simplesmente não quer nada, vivendo sem qualquer interesse pelo espiritual.
No entanto, dentro dos chamados, há um grupo específico que não se submete à autoridade das Escrituras. Eles preferem seguir suas próprias ideias, moldando sua visão de Deus conforme lhes convém, em vez de se renderem à verdade revelada.
Jesus foi direto ao falar sobre essa rejeição:
“E a condenação é esta: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas” (João 3:19-20).
Essa rejeição deliberada da verdade bíblica é justamente o que abordamos no artigo de hoje: "Sem Vergonha e Safado!" (leia a parte 1). Muitos afirmam que creem, mas suas vidas provam o contrário. Esses, que sentem o vazio eterno e são chamados, encontram maneiras de criar seus próprios caminhos, suas próprias opiniões sobre Deus e Sua ação.
Um exemplo clássico desse desvio foi o gnosticismo, que surgiu nos primeiros séculos da Igreja. Assim como hoje, eles tentavam conciliar fé e filosofia humana, mas rejeitavam a verdade absoluta das Escrituras. A história se repete—e aqueles que não amam a luz continuam buscando justificativas para permanecer nas trevas.
Marcião e a Dicotomia Entre os Testamentos
Marcião (lider gnóstico) foi uma figura teológica do século II d.C. conhecida por suas visões controversas sobre o Novo Testamento e a relação entre o Deus do Antigo Testamento e o Deus de Jesus Cristo. Ele rejeitava a maior parte dos escritos do Novo Testamento, aceitando apenas partes dos escritos de Paulo e um evangelho que ele mesmo
Marcião, um herege do século II, acreditava que o Deus do Antigo Testamento era um ser inferior, severo e vingativo, distinto do Deus revelado por Jesus Cristo no Novo Testamento. Sua visão crítica de Javé, especialmente em passagens como Números 31, pode ser resumida em algumas características que ele atribuía a esse Deus:
- Deus da Justiça Retributiva – Para Marcião, Javé era um Deus que punia e exigia obediência absoluta, diferente do Deus de amor revelado por Jesus.
- Deus Bélico e Vingativo – Episódios como a ordem de extermínio dos midianitas em Números 31 eram vistos como provas de que Javé promovia violência e guerra.
- Criador Imperfeito – Marcião via Javé como o demiurgo, um ser inferior responsável pelo mundo material e suas imperfeições.
- Deus Parcial e Exclusivista – Considerava que Javé favorecia apenas Israel, mostrando-se injusto para com outros povos.
- Incompatível com o Evangelho – Rejeitava a ideia de que Jesus fosse o Filho de Javé, pois via o Deus do Antigo Testamento como irreconciliável com o amor e a graça pregados por Cristo.
Por essa visão radical, Marcião rejeitou todo o Antigo Testamento e criou sua própria versão do cristianismo
Contudo, a Bíblia ensina a unidade entre o Antigo e o Novo Testamento. O próprio Jesus declarou: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas para cumprir” (Mateus 5:17). O apóstolo Paulo, reafirmando a autoridade das Escrituras, escreveu em 2 Timóteo 3:16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”. Essas passagens mostram que a revelação divina é coesa e contínua, e não deve ser interpretada de maneira fragmentada.
A Influência Contemporânea da Mentalidade de Marcião
A mentalidade de Marcião, com sua rejeição seletiva dos textos bíblicos, ecoa no surgimento de várias seitas e heresias ao longo da história da Igreja. Muitos movimentos modernos interpretam a Bíblia de maneira subjetiva, muitas vezes sem considerar a revelação progressiva de Deus. Essa abordagem seletiva resulta em distorções teológicas e na perda da visão completa da mensagem divina.
Por isso, é essencial que os cristãos mantenham uma hermenêutica bíblica saudável, fundamentada na totalidade das Escrituras. Como está escrito em Salmos 119:160: “A soma da tua palavra é a verdade, e cada uma das tuas justas ordenanças dura para sempre”. O estudo cuidadoso e a obediência à Palavra de Deus são indispensáveis para uma fé sólida e inabalável.
Conclusão
O estudo da inerrância das Escrituras nos leva a reconhecer a plenitude da revelação de Deus, sem fragmentá-la ou reinterpretá-la conforme perspectivas humanas. As Escrituras são divinamente inspiradas e se completam entre o Antigo e o Novo Testamento. A rejeição da autoridade bíblica, como observamos nos exemplos históricos e modernos, não invalida a verdade divina, mas apenas confirma a necessidade de discernimento espiritual.
Além disso, ao estudarmos a formação do cânon sagrado, compreendemos como chegamos aos 66 livros da Bíblia e não aos mais de 200 escritos—entre livros e fragmentos—que circulavam no período da Igreja Primitiva. A preservação do cânon bíblico não foi um processo aleatório, mas resultado da providência divina e do critério rigoroso aplicado pelos primeiros cristãos para reconhecer os escritos verdadeiramente inspirados por Deus.
Que possamos sempre nos submeter à Palavra de Deus, confiando em Sua revelação completa e perfeita, pois, como Jesus afirmou:
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mateus 24:35).
Ó Deus Eterno e Todo-Poderoso,
Tu, que inspiraste Tua santa Palavra e preservaste a verdade através dos séculos, guiando Teu povo na compreensão das Escrituras, curva nossos corações diante de Tua soberana revelação.
Tu és o Deus que fala, cuja voz ressoou aos profetas, aos apóstolos e ao Teu próprio Filho, mas muitos rejeitam Tua verdade, preferindo sombras em vez da luz, erros em vez da sabedoria, ídolos de sua própria imaginação em vez do Deus vivo.
Senhor, livra-nos do engano que obscurece a mente, das correntes filosóficas que distorcem Tua Palavra, das tentações do orgulho intelectual que busca reinterpretar Tua vontade. Que possamos amar as Escrituras como Tua santa e perfeita revelação, não escolhendo partes conforme nos convém, mas submetendo-nos à totalidade de Teus ensinos.
Ó Deus, inclina-nos a confiar em Tua Palavra como nossa rocha inabalável. Afasta-nos das heresias dos antigos e dos modernos, pois o coração humano continua a fabricar falsos conceitos sobre Ti. Não nos deixes cair no erro de Marcião, que tentou dividir o que Tu uniste, escolhendo apenas o que lhe era agradável e rejeitando o restante. Dá-nos olhos para ver Tua verdade completa e perfeita, do Gênesis ao Apocalipse, como um só testemunho da Tua glória.
Que a Tua luz brilhe sobre os que são chamados, mas ainda resistem à Tua verdade. Que os que amam as trevas e evitam a correção, sejam convencidos pelo Teu Espírito Santo.
Senhor, dá-nos um coração reverente diante de Tua Palavra. Que possamos estudá-la com temor e alegria, buscando não apenas conhecimento, mas transformação. Que sejamos encontrados fiéis em seguir tudo o que revelaste, sem nos deixarmos levar por doutrinas falsas e interpretações convenientes.
Ó Deus, que as Escrituras sejam nosso guia, nossa luz, nosso alimento e nosso deleite. Que nunca desprezemos Tua voz, mas sigamos firmemente as palavras que jamais passarão.
Em nome de Jesus, a Palavra viva, que cumpriu toda a Lei e os Profetas. Amém.
Amém🙏🏼
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