“Se você não tem desejo pelo céu, será que irá para lá?” – John Bunyan



 John Bunyan, autor de O Peregrino (The Pilgrim’s Progress), é uma das figuras mais notáveis da história cristã. Nascido na pobreza, sem educação formal, ele se tornou um poderoso pregador e escritor cujas obras ecoam até hoje. Sua vida é marcada por sofrimento, fé inabalável e um amor profundo pelas Escrituras. Seu legado, especialmente por meio de O Peregrino, influenciou milhões de leitores em todo o mundo.

Origem humilde e conversão marcante

John Bunyan nasceu em 1628, em Elstow, na Inglaterra, numa família de trabalhadores pobres. Aprendeu o ofício de seu pai, um caldeireiro (fabricante de utensílios de metal), mas desde jovem viveu uma vida rebelde, entregue à grosseria e à imoralidade, como ele mesmo confessaria mais tarde.

Sua conversão começou a acontecer após ouvir algumas mulheres cristãs conversando sobre suas experiências com Cristo. Bunyan começou a frequentar cultos e a ler intensamente a Bíblia. Após um período de intensa luta espiritual, encontrou paz e segurança em Cristo. Esse encontro o transformou completamente, levando-o a pregar com fervor entre os Puritanos e Batistas.

Prisão e inspiração: o nascimento de O Peregrino

Em 1660, após a restauração da monarquia inglesa, a pregação não autorizada fora da Igreja Anglicana foi proibida. John Bunyan, por se recusar a parar de pregar, foi preso por 12 anos. Foi durante esse período de confinamento, em condições extremamente difíceis, separado de sua esposa e filhos, que ele escreveu sua obra-prima: The Pilgrim’s Progress (O Peregrino).

Publicado pela primeira vez em 1678, o livro nasceu de uma visão espiritual. Escrito em linguagem acessível e com forte simbologia bíblica, ele retrata a jornada do cristão (chamado “Cristão” no livro) desde a “Cidade da Destruição” até a “Cidade Celestial”. A jornada é repleta de provações, tentações, companheiros e inimigos, todos representando aspectos da vida cristã.

Versículos e influências bíblicas

A Bíblia é a base de O Peregrino. Bunyan cita ou faz alusão a mais de 200 passagens bíblicas. Algumas que moldam sua narrativa incluem:

  • Mateus 7:13-14:

    “Entrem pela porta estreita...”
    Esta passagem inspira o início da jornada de Cristão, ao abandonar a cidade da destruição.

  • Hebreus 12:1-2:

    “Corramos com perseverança a corrida que nos é proposta...”
    Reflete o caminhar determinado do peregrino rumo ao céu.

  • Efésios 6:11-17:

    “Revistam-se de toda a armadura de Deus...”
    Essa passagem inspira a armadura que Cristão recebe para lutar contra o inimigo Apoliom.

  • Salmo 23:

    “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte...”
    Ilustra o momento em que Cristão atravessa o “Vale da Sombra da Morte”.

  • Romanos 8:28:

    “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...”
    Refletido nas provações que acabam fortalecendo o personagem.

Impacto global de O Peregrino

O Peregrino é considerado um dos livros mais lidos e traduzidos da história, superado apenas pela Bíblia. Foi traduzido para mais de 200 idiomas e, por séculos, era leitura obrigatória nas casas cristãs, especialmente entre protestantes.

O impacto do livro vai além da literatura. Ele formou teologia popular, moldou a imaginação cristã, e influenciou autores como C.S. Lewis, Charles Spurgeon, George Whitefield, e Helen Keller. Spurgeon, inclusive, dizia ter lido O Peregrino mais de 100 vezes e o chamava de "o segundo livro mais importante depois da Bíblia".

O poder da simplicidade e da fidelidade

O mais notável é que Bunyan, sem educação formal, escreveu com clareza, profundidade teológica e poderosa imaginação espiritual. Tudo isso enraizado no solo fértil das Escrituras. Ele não apenas escreveu, mas viveu o que ensinava. Sua fé firme em meio à perseguição, seu amor por Cristo e sua fidelidade à verdade da Palavra ecoam em cada página.

Últimos anos e legado eterno

John Bunyan foi libertado da prisão em 1672, e continuou pregando com grande fervor. Faleceu em 1688, aos 60 anos, após adoecer em uma viagem ministerial. Seu túmulo, em Londres, tornou-se local de peregrinação cristã.

O legado de Bunyan não está apenas em O Peregrino, mas também em suas outras obras, como Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, A Guerra Santa e O Pranto de um Prisioneiro — todas repletas de doutrina bíblica, paixão evangelística e profundidade espiritual.


Conclusão: um peregrino que nos aponta o caminho

John Bunyan nos lembra que não importa a origem humilde, a perseguição ou os muros da prisão: Deus pode usar qualquer vida completamente entregue a Ele para tocar gerações. Ele nos chama, como o personagem Cristão, a deixar a cidade da destruição e seguir rumo à Cidade Celestial com os olhos firmes em Cristo.

Seus escritos ainda hoje nos exortam a manter o foco na jornada eterna, resistir às tentações do mundo, e caminhar com fé, coragem e esperança.

“Se você não tem desejo pelo céu, será que irá para lá?” – John Bunyan

 



 

No Caminho da Cidade Celestial

Ó Altíssimo e Santo Deus,
Pai das Luzes e Pastor dos peregrinos,

Nós Te bendizemos por teres aberto a porta estreita e mostrado o caminho que leva à vida.
Tu nos chamaste para fora da Cidade da Destruição,
e com laços de amor nos atraíste ao pé da cruz,
onde o fardo de nossos pecados caiu ao chão,
e onde encontramos paz por meio do sangue de Teu Filho amado.

Senhor, como o peregrino da antiga história,
nossos pés vacilam em terras áridas,
somos tentados a entrar nas praderas do Desvio,
a adormecer no Castelo da Dúvida,
e a buscar alívio em conselhos de Mundano Sábio.
Livra-nos, ó Deus, de confiar em nossos próprios entendimentos,
e dá-nos ouvidos atentos à Tua Palavra e à voz do Espírito.

Reveste-nos com a armadura celestial,
com a verdade como cinto, a justiça como couraça,
o evangelho como sandálias, e a fé como escudo.
Que a espada do Espírito nunca esteja embainhada,
e que a esperança da salvação brilhe como capacete em nossa cabeça.

Ó Senhor do caminho e da jornada,
ensina-nos a passar pelo Vale da Humilhação com mansidão,
a resistir ao rugido de Apoliom com fé firme,
e a atravessar o Vale da Sombra da Morte sem temor,
pois Tu estás conosco, e Tua vara e Teu cajado nos consolam.

Concede-nos companheiros fiéis na estrada,
como Fiel e Esperança,
que nos exortem com a Verdade,
e nos animem quando o coração vacila.

Não permitas que o brilho da Feira da Vaidade nos seduza,
nem que a prisão da incredulidade nos retenha.
Faz-nos firmes até cruzarmos o rio derradeiro,
onde os portões da Cidade Celestial se abrirão com júbilo,
e ouviremos do Rei:
"Bem está, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor."

Até então, dá-nos olhos fitos na eternidade,
corações quebrantados, e mãos dispostas a servir.
Faz-nos andar como peregrinos neste mundo,
vivendo com fé, morrendo com esperança,
e esperando a coroa que está preparada para os que Te amam.

Em nome de Jesus, nosso Rei e Redentor,
Amém.


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