Homens de paz em tempos de fogo: a vida e o legado de Menno Simons

Menno nasceu em 1496, nos Países Baixos, em uma época de intensos conflitos religiosos e políticos. A Reforma Protestante havia explodido como um trovão sobre a Europa, e muitos buscavam uma fé mais autêntica, longe das corrupções do clero e da autoridade papal. Mas os anabatistas foram além: acreditavam que o verdadeiro discipulado exigia uma decisão consciente e madura pela fé, rejeitando o batismo infantil. Assim, passaram a ser chamados de "anabatistas", ou “rebatizadores” — embora, para eles, aquele batismo infantil nunca fora válido aos olhos de Deus.

Menno Simons era inicialmente um sacerdote católico. No entanto, após muitas dúvidas e uma profunda inquietação ao estudar as Escrituras, abandonou sua posição clerical e uniu-se ao movimento anabatista, que sofria perseguições tanto dos católicos quanto dos protestantes. Em 1536, tornou-se líder entre os anabatistas pacifistas, reorganizando comunidades que estavam sendo dizimadas, oferecendo ensino, consolo e uma visão firme de discipulado cristão centrado em Jesus.


Vivendo Como Jesus Andou

Seus ensinamentos giravam em torno da simplicidade evangélica, da separação entre Igreja e Estado, da não violência e da vida comunitária. Para ele, ser cristão era seguir o exemplo de Cristo de maneira prática e visível.

“Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar como ele andou.”
(1 João 2:6)

Seus seguidores passaram a ser conhecidos como menonitas, nome que permanece até hoje — um povo comprometido com a paz, o amor ao próximo e a fidelidade à Palavra.


Uma Fé que Desafia as Armas

O século XVI foi um tempo de fogo — guerras, revoltas camponesas, perseguições religiosas e execuções públicas. Em meio a esse cenário sangrento, os anabatistas se destacaram como um povo radicalmente comprometido com a paz de Cristo. Menno insistia na não resistência, um princípio baseado não em fraqueza, mas na força do evangelho:

“Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem.”
(Mateus 5:44)

Os verdadeiros cristãos não fazem uso da espada, nem contra seus inimigos, pois são filhos de paz e seguem o Cordeiro”, escreveu Menno.

E ele baseava essa postura em mais do que palavras:

Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os seus passos.
(1 Pedro 2:21)


Histórias que Falam Mais Alto que Espadas

As histórias dos primeiros anabatistas são marcadas por coragem silenciosa. Um exemplo comovente é o de Dirk Willems, um anabatista preso por causa de sua fé. Condenado à morte, conseguiu escapar da prisão atravessando um lago congelado. Um dos guardas que o perseguia caiu nas águas geladas. Dirk, em vez de fugir, voltou e salvou o inimigo que o perseguia. Como recompensa, foi recapturado, julgado novamente e queimado vivo.

Essa é a essência do evangelho: não se vencer o mal com o mal, mas com o bem.

Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”
(Romanos 12:21)


A Cruz é Mais Forte do que a Espada

Menno compreendia que a cruz não é apenas símbolo de sofrimento, mas de vitória por meio da entrega. Enquanto muitos líderes religiosos usavam a força para impor doutrinas, Menno apelava à consciência iluminada pela Palavra e guiada pelo Espírito:

A espada pode conquistar reinos, mas somente o Espírito de Deus conquista corações.”

Para Menno, ninguém podia ser forçado a seguir Cristo. O discipulado era um chamado livre, fruto de arrependimento e regeneração interior.

O meu Reino não é deste mundo.
(João 18:36)

As armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas.
(2 Coríntios 10:4)


Um Chamado para Hoje

Num tempo em que tantos cristãos se envolvem em batalhas ideológicas com a lógica do mundo — defendendo suas causas com ira e intolerância —, a vida e os ensinamentos de Menno Simons nos confrontam:

Será que ainda cremos que o poder da cruz é suficiente?
Ou confiamos mais em alianças humanas e força institucional?

Pesquisando sobre esses homens e mulheres que foram profundamente usados por Deus, tenho notado algo que me confronta: eles não buscavam equilíbrio no sentido moderno da palavra — esse que muitas vezes é sinônimo de acomodação ou mornidão espiritual. Pelo contrário, eram radicais em sua fé, apaixonados pela revelação de Deus, contraculturais, dispostos a viver à margem do sistema religioso e social, se necessário fosse, para obedecer ao Senhor. Eles não se moldaram ao mundo, nem se misturaram à cristandade superficial e diluída — que muitos hoje chamam de “cristandade nutella”.

A verdadeira força cristã ainda está onde sempre esteve: no amor que perdoa, na fé que espera e na esperança que não morre — mesmo sob o fogo da perseguição, mesmo quando caminhar com Cristo custa tudo.

Ó Deus de paz,

Em tempos de espada, Tu levantaste homens de coragem que brandiram o estandarte da paz. Obrigado por Teu servo Menno Simons, que ousou crer no poder do Cordeiro mais do que na força do mundo.

Ensina-nos, Senhor, a seguir o Cordeiro onde quer que Ele vá, mesmo que isso signifique a rejeição do mundo.

Dá-nos uma fé que age, uma esperança que não desiste, e um amor que tudo suporta.

Que a nossa vida seja um testemunho do Teu Reino, pacífico e eterno.

Em nome de Jesus,
Amém.

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