Mesmo que o mundo todo caia, Cristo permanece Deus: Atanásio de Alexandria
Introdução
No quarto século, o cristianismo passava por uma profunda crise teológica e política. Após o fim das perseguições romanas com o Edito de Milão (313 d.C.), que legalizou a fé cristã, a Igreja entrou em uma nova fase: liberdade religiosa, mas também maior influência do Estado nas questões eclesiásticas. Foi nesse contexto que surgiu uma das maiores controvérsias doutrinárias da história: o arianismo.
O arianismo, liderado por Ário, um presbítero de Alexandria, ensinava que o Filho de Deus (Jesus Cristo) não era eterno, mas uma criatura exaltada, feita por Deus antes de todas as coisas. Ário dizia: “Houve um tempo em que o Filho não existia.” Essa doutrina negava que o Filho fosse da mesma substância (essência) que o Pai — ideia que atacava diretamente a doutrina da Trindade e da salvação, pois, se Cristo não fosse Deus verdadeiro, não poderia oferecer redenção divina.
Essa heresia se espalhou rapidamente e encontrou apoio em muitos bispos e até imperadores, criando uma enorme divisão dentro da Igreja. Para enfrentá-la, o imperador Constantino convocou o Concílio de Niceia (325 d.C.), onde, com a liderança teológica de Atanásio (ainda diácono na época), a Igreja declarou que o Filho é “consubstancial ao Pai” (homoousios em grego), reafirmando Sua plena divindade.
Mesmo após a decisão de Niceia, o arianismo continuou influente, especialmente por causa de intrigas políticas e da instabilidade imperial. Foi nesse cenário que Atanásio, mais tarde bispo de Alexandria, se destacou como defensor incansável da ortodoxia nicena. Ele foi exilado cinco vezes por diferentes imperadores, acusado injustamente e perseguido, mas nunca cedeu ao erro.
Sua resistência incansável fez surgir a expressão “Athanasius contra mundum” — “Atanásio contra o mundo” — porque, ainda que quase todos se rendessem ao arianismo, ele permaneceu firme na verdade bíblica de que Jesus Cristo é Deus eterno, igual ao Pai, e digno de plena adoração.
A Trindade: Um Deus em Três Pessoas
A doutrina da Trindade não é uma invenção filosófica, mas uma necessidade bíblica. Atanásio reconheceu que negar a divindade do Filho seria destruir a unidade e a essência do Deus trino.
A Escritura revela três Pessoas que compartilham a mesma essência divina. Em Mateus 28:19, Jesus comanda o batismo “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” — não nomes, mas nome, indicando unidade. O Pai é Deus (João 6:27), o Filho é Deus (João 1:1; 20:28; Colossenses 2:9), e o Espírito é Deus (Atos 5:3-4). Três Pessoas, um só Deus.
Negar a divindade de qualquer uma dessas Pessoas é comprometer a própria salvação, pois, como Atanásio ensinou, apenas Deus pode redimir o homem da morte e do pecado.
A Divindade de Cristo: Prova Escriturística
A batalha central de Atanásio foi pela confissão de que o Verbo eterno, Jesus Cristo, é plenamente Deus. O arianismo afirmava que o Filho era a primeira criatura de Deus. A Bíblia, porém, afirma o contrário.
João 1:1-3 declara:
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez."
O Verbo não se tornou Deus, Ele era Deus desde o princípio. Ele é o Criador, não parte da criação. O mesmo Verbo se fez carne (João 1:14), habitando entre os homens — não uma criatura, mas o próprio Deus encarnado.
Colossenses 1:15-17 reafirma:
"Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação [...] tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste."
“Primogênito” não significa “primeiro criado”, mas aquele com direito à herança, ao domínio. O contexto enfatiza Sua eternidade e soberania, não uma origem temporal.
Hebreus 1:3 proclama que Ele é "o resplendor da glória e a expressão exata do seu ser", sustentando o universo. Só Deus pode sustentar o universo.
Atanásio via com clareza que se Jesus fosse apenas um ser criado, Sua morte não teria poder redentor. A cruz só tem valor salvífico porque o que ali se entregou foi o próprio Deus feito homem.
Perseverança na Verdade
A fidelidade de Atanásio custou-lhe exílio, perseguição e oposição contínua, até mesmo por parte de líderes da Igreja e do Império. No entanto, sua convicção não cedeu. Ele compreendia que a verdade não é moldada por maioria, mas sustentada pela revelação divina. Seu testemunho ecoa na famosa frase: “A verdade de Deus não muda com o tempo, nem depende da aceitação dos homens.”
Conclusão
O legado de Atanásio não repousa em suas palavras, mas na doutrina que defendeu com zelo: que Jesus Cristo é plenamente Deus, o eterno Filho do Pai, igual em essência e digno de eterna adoração. A fidelidade desse bispo do deserto preservou a verdade que ainda hoje fortalece a Igreja. E sua vida nos lembra: a ortodoxia não é um luxo acadêmico, mas a base da fé salvadora.
Em tempos de relativismo, que a coragem de Atanásio inspire os crentes a permanecerem firmes na verdade bíblica, ainda que o mundo se oponha.
Ó Cristo eterno, Verbo de Deus,
Nós Te louvamos, pois és o esplendor da glória do Pai,
Luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro.
Não és criatura, mas Criador;
Não és servo, mas Senhor.Foi pela Tua encarnação que a morte foi vencida,
Pela Tua cruz que a ira foi satisfeita,
Pela Tua ressurreição que a vida nos foi dada.Preserva-nos, ó Senhor, de toda doutrina falsa.
Dá-nos discernimento para conhecer-Te como Tu és:
Co-igual com o Pai e com o Espírito,
Um Deus em três Pessoas, bendito para sempre.Que mesmo quando formos poucos,
Estejamos firmes na verdade imutável do Teu nome.
Pois se estivermos contigo, jamais estaremos sozinhos.Em Teu nome glorioso oramos,
Amém.
Amém🙏🏼
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