Antes de Prosseguir: Lembre Quem Você É em Cristo

 

“Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Rm 7:25)

Há algo que sempre me inquieta — um sentimento que me acompanha toda vez que fecho um capítulo da Bíblia. É como se, ao virar a página, uma voz sussurrasse: “Ainda há mais a ser dito. Mais a ser descoberto. Mais a ser vivido.”
As Escrituras não são apenas palavras encerradas em capítulos — elas são um rio que nunca seca, uma estrada que sempre convida a seguir adiante.

Por isso, minha oração por você, querido leitor, é simples e sincera: não deixe para trás o que já vimos juntos. Não permita que o que aprendemos em Romanos 6 e 7 se apague com o tempo. Guarde. Medite. Viva.

Antes de atravessarmos os campos verdes e mergulharmos nas águas profundas de Romanos 8, precisamos olhar para trás. A jornada foi intensa. Escalamos a montanha escarpada da luta cristã — onde Paulo nos mostrou o confronto entre a nova vida em Cristo e os ecos persistentes da velha carne.
E foi lá, nesse terreno de conflito, que brilhou a urgência da graça — e com ela, a doce promessa: o Espírito Santo caminha conosco.

Romanos 6 – A Morte que Liberta

Em Romanos 6, Paulo nos confronta com uma pergunta que rasga o coração da falsa graça:
“Vamos continuar pecando para que a graça aumente?”
A resposta? Um retumbante: “De modo nenhum!” (Rm 6:1–2)

Aqui, Paulo nos chama a lembrar quem somos. Fomos unidos com Cristo em Sua morte e ressurreição. O batismo não é apenas um rito simbólico — é uma proclamação pública e espiritual: morremos com Cristo para o pecado. Isso significa que o pecado não é mais nosso senhor. Não somos mais escravos dele. Isso muda tudo — não só na teoria, mas na prática da vida.

Agora vivemos para Deus, com uma nova motivação e, sobretudo, uma nova identidade.
Não se esqueça disso. Aliás, foi por isso que sugeri aquela oração diante do espelho:

"Senhor, ajuda-me a lembrar quem eu sou em Ti, mesmo quando meus olhos dizem o contrário."

Sem identidade, não há vitória.
Você pode até tentar lutar contra o pecado, mas se ainda se vê como escravo, vai lutar com grilhões nos pés. A liberdade começa quando você se vê como Deus o vê — morto para o pecado, vivo para Cristo.

Paulo reforça isso com força:

“Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com Ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não mais sejamos escravos do pecado.” (Rm 6:6)

Mas cuidado: essa liberdade não é um passe livre para fazer o que quisermos.
Não é libertinagem — é troca de senhorio.
Agora somos servos da justiça (Rm 6:18). Saímos da prisão do pecado e fomos acolhidos pelo Deus que nos vivifica. Essa obediência não é a causa da salvação — é o fruto inevitável de quem nasceu de novo.

Em Cristo, deixamos de obedecer por medo ou obrigação. Obedecemos porque fomos transformados.
A antiga natureza morreu. A nova vive — e ela deseja agradar ao Pai.

E Paulo conclui com uma sentença que ecoa eternidade:

“O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus.” (Rm 6:23)

Romanos 7 – O Grito do Santo

Se Romanos 6 afirma nossa morte para o pecado, Romanos 7 nos mostra como ainda nos sentimos vivos para ele. É o capítulo da tensão.
Paulo introduz a função da Lei — não como um meio de salvação, mas como espelho revelador. A Lei, santa e justa, expõe o pecado. E o pecado, por sua vez, usa a Lei como isca. Resultado? Frustração.

“O que quero fazer, não faço; o que odeio, isso faço.” (Rm 7:15)

Aqui vemos o drama da alma regenerada que ainda vive em um corpo não glorificado. Paulo descreve uma guerra interior entre o “homem interior” que se deleita na Lei de Deus e a “lei do pecado” nos seus membros. E ao final, exausto, ele grita:

“Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7:24)

Essa não é a voz de um incrédulo, mas de um santo cansado, lutando contra a carne, ansiando pela redenção final. Ele sabe que não há livramento em si mesmo. Por isso, imediatamente explode em gratidão:

“Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Rm 7:25)

Essa gratidão nos aponta diretamente para Romanos 8 — onde veremos o poder do Espírito nos libertando, consolando, adotando e garantindo.

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Preparando o Coração para Romanos 8

Romanos 6 nos ensinou que fomos unidos a Cristo.
Romanos 7 revelou que ainda há uma luta real contra o pecado.
Romanos 8 nos dirá quem nos capacita a viver essa nova vida: o Espírito Santo.

Se no capítulo 7 o clamor é: “Quem me livrará?”, no capítulo 8 ouviremos a resposta:
“Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus...” (Rm 8:1)

Romanos 8:13 diz que é pelo Espírito que fazemos morrer os feitos do corpo. Não é na base do grito ou da força bruta — é na base da graça. E o resultado? “Viverei.”
Isso não é uma dieta espiritual, onde você só tenta controlar o apetite da carne — é uma transformação radical, de dentro pra fora, movida pelo poder do Espírito Santo.

Ó Deus Santo e Justo,
cujo trono é cercado por luz inacessível e cuja graça nos alcança nas trevas da escravidão,
nós Te bendizemos por nos unires ao Teu Filho na morte e na ressurreição.

Nós, que éramos cativos do pecado,
fomos sepultados com Cristo para que o velho homem perecesse,
e agora, em nova vida, podemos Te chamar de Pai e Senhor.

Ensina-nos a lembrar, dia após dia,
que não pertencemos mais ao tirano que nos escravizava,
mas à Tua justiça que nos vivifica.

Livra-nos da mentira da falsa graça,
que oferece perdão sem transformação,
e planta em nós o temor reverente que obedece não por peso,
mas por amor — amor nascido da cruz, regado pelo Espírito e florescido em santidade.

Senhor, ajuda-nos a olhar no espelho e ver, não a sombra do passado,
mas o reflexo do Teu Filho sendo formado em nós.

Que nunca tentemos lutar com forças próprias,
mas que descansemos na obra consumada e na presença constante do Teu Espírito,
que mortifica os desejos da carne e vivifica nossa alma.

Somos Teus, ó Senhor da nossa liberdade.
Faz-nos servos da Tua justiça até o fim.
Em nome de Cristo, nosso Libertador crucificado e ressuscitado,

Amém.