Mentiras que Vestem Bem

“Por isso, deixem de mentir e digam a verdade a seu próximo, pois somos todos membros do mesmo corpo.”

Efésios 4:25 (NVT)

Mentir é mais do que dizer algo falso. Mentir é vestir-se de uma identidade que não é sua. É pintar uma fachada quando Deus quer transformar o alicerce. Quando Paulo diz: “deixem de mentir”, ele está nos chamando para um despir radical — não apenas de palavras falsas, mas de toda a postura interior que se apoia na falsidade para sobreviver.

A Mentira que se Disfarça de Virtude

Vivemos num mundo onde a mentira não é só permitida — ela é polida, embalada e vendida como estratégia. No marketing, por exemplo, aprendemos a manipular dados, a destacar o brilho e esconder os defeitos. Criamos slogans que prometem mais do que entregam. Contamos “meias verdades” que, no fim, servem ao mesmo senhor: o engano.

Mas não é só lá fora.

Dentro da igreja, nas redes sociais ou no convívio cristão, a mentira pode se vestir de “testemunho” exagerado, de espiritualidade performática, de uma imagem bem construída que esconde o caos interno. Quem nunca sentiu a tentação de parecer mais sábio, mais santo ou mais bem-sucedido do que realmente é?

Mentimos para vender, para impressionar, para esconder, para controlar. E muitas vezes nem chamamos de mentira — chamamos de estratégia, de jeitinho, ou de sabedoria prática.

Mentiras Brancas, Correntes Negras

Uma das formas mais sutis da mentira é aquela que parece inofensiva: a mentira branca. Aquela que dizemos para evitar conflito, proteger alguém, ou simplesmente evitar a vergonha. Mas essas pequenas mentiras são como fios de arame: quanto mais nos enrolamos neles, mais nos ferimos.

Mentir, mesmo com boa intenção, é se vestir de uma roupa que não nos pertence no Reino. Porque Jesus é a Verdade — e todo o Seu corpo deve andar em verdade. Quando mentimos uns para os outros, é como se o corpo estivesse enviando sinais errados para si mesmo. O resultado? Disfunção espiritual. A mentira nos separa, mas a verdade nos reconcilia.

Despir e Revestir

Efésios 4 não nos chama apenas a parar de mentir, mas a falar a verdade. Isso é mais do que não mentir — é viver de forma honesta, corajosa, transparente. É deixar o falso e se vestir com a verdade de Cristo, mesmo quando isso nos expõe.

Despir-se da mentira é abrir mão do controle, da performance e do medo de rejeição. Revestir-se da verdade é confiar que ser conhecido por Deus e pelos irmãos é melhor do que ser admirado por todos à distância.

A mentira é arma dos mortos. A verdade é o escudo dos vivos.

---

Ó Senhor da Verdade,

Tu sondas o mais profundo dos nossos corações.
Não há engano que Te escape, nem máscara que Te confunda.

Confessamos, com vergonha, que temos nos vestido de falsidade.
Nossas palavras foram por vezes polidas, mas não puras.
Nossos gestos, bem ensaiados, mas distantes do Teu Espírito.

Livra-nos, Senhor, do pecado de parecer mais do que somos.
Livra-nos da ânsia de sermos aceitos às custas da verdade.

Despe-nos das palavras fingidas, das intenções ocultas,
e reveste-nos com a coragem da honestidade,
com a humildade de corações nus diante do Teu altar.

Faz-nos falar a verdade em amor,
viver com integridade no secreto,
e testemunhar com a vida aquilo que confessamos com os lábios.

Que o Espírito da Verdade nos guie no caminho da cruz,
onde toda falsidade morre,
e toda verdade resplandece em Cristo.

Amém.