O Dia em que a Terra Frutificou — Memórias do Cerrado

Gênesis 1:11–13

E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi. E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.” (Gênesis 1:11–13, NVT)


 O espetáculo que muitos não veem

Muitos leem este texto e seguem adiante, sem perceber o esplendor que ele contém. Mas feche os olhos por um momento e imagine a cena: o terceiro dia amanhecendo sobre uma terra ainda úmida da criação, quando, de repente, tudo se cobre de verde, flores e frutos. É como se uma mesa celestial se abrisse diante dos olhos de Deus — uma explosão de cores, aromas e sabores. Tons de verde, vermelho, laranja e púrpura dançando sob a luz da primeira manhã fértil. A terra inteira se torna um banquete visual, um hino silencioso à generosidade divina.


 Memórias do Cerrado

Dentre as muitas lembranças da minha infância em Goiás, lembro-me de uma cena viva: meu pai, ao volante de sua velha Rural, levando a família para a fazenda. O sol ainda nascendo, o cheiro de terra molhada, e nós, crianças, cheios de curiosidade com o que encontraríamos pelo caminho.
Em certo ponto da estrada, ele parava perto de um rio. Ali, entre galhos e sombras, colhíamos ingá — aquela fruta que parece uma grande semente de feijão, com caroços doces como mel. Havia também o pequi, com seu aroma forte e sabor inconfundível; a gabiroba, uma pequena goiabinha do cerrado que explode na boca; a mangaba, com seu perfume suave; o araticum, doce e cremoso; o baru, com seu gosto de castanha tostada; o jatobá, com sua polpa seca e sabor antigo; e tantas outras dádivas escondidas entre as matas.

Cada parada era uma descoberta. Cada fruta parecia um presente deixado pela mão de um Criador generoso. Quem as plantou? De onde vieram? O versículo nos responde: E disse Deus: Produza a terra.


 A semente: o código da continuidade

Deus não apenas fez a terra brotar — Ele colocou nela o princípio da vida que se multiplica. Cada erva, cada fruto, cada grão traz dentro de si a semente da continuidade.
Segundo a sua espécie” — essa expressão revela a sabedoria e a ordem do Criador. Tudo o que Deus faz é coerente, estável e obedece ao Seu propósito.
Vivemos num tempo em que tudo parece fluido e incerto, mas a semente nos ensina sobre fidelidade à origem. A macieira sempre dará maçãs; o trigo jamais se tornará espinho. O DNA da criação carrega uma mensagem espiritual: Deus é constante, e tudo o que Ele cria é fiel ao que Ele é.


 O terceiro dia: o prenúncio da ressurreição

Foi no terceiro dia que a terra frutificou — e foi também no terceiro dia que Cristo ressuscitou. O mesmo Deus que fez a terra romper sua esterilidade fez o sepulcro se abrir em vida. O Éden e o Calvário se unem num só testemunho: o Deus que cria é o Deus que ressuscita. O terceiro dia é o dia da vida que vence a morte.


 Uma pregação servida à mesa

Da próxima vez que você se sentar diante de uma mesa cheia de frutas, pare um instante. Observe as cores, os aromas, as formas — cada uma delas é uma parábola viva da fidelidade de Deus.
Cada fruto é uma lembrança de que Ele ainda sustenta o mundo com a mesma palavra que pronunciou no princípio: Produza a terra.
A criação é mais do que um cenário — é uma pregação servida à mesa.


Desafio 

Quando você morder uma fruta, saboreie com o espírito desperto. Veja ali a assinatura do Criador, a promessa da continuidade e o sabor da fidelidade divina. A doçura que toca sua língua nasceu do mesmo decreto que formou o universo. O Deus que fez brotar o fruto quer fazer frutificar a sua vida.




Senhor da Criação,Tu que falaste, e a terra respondeu com vida; que ordenaste, e o pó fez brotar verdes campos e árvores cheias de frutos — nós Te adoramos!

Ao contemplarmos a Tua generosidade no terceiro dia, ficamos maravilhados. Cada semente que germina, cada fruto que amadurece, cada colheita que sustenta o homem proclama a Tua bondade eterna.

Perdoa-nos quando comemos sem pensar, quando desfrutamos da abundância sem gratidão. Que cada refeição se torne um altar de adoração, e cada fruto, um lembrete da Tua fidelidade.

Faz-nos ver, ó Deus, que toda a beleza do campo é apenas um reflexo pálido da Tua glória. Ensina-nos a colher com reverência, a repartir com generosidade, e a semear com fé, crendo que o mesmo Deus que criou as sementes faz florescer os corações.

Que, ao provarmos o doce sabor de uma fruta, possamos sentir o doce sabor da Tua graça, e lembrar: “E viu Deus que era bom.”

Em nome de Cristo, o Fruto perfeito da Tua promessa, oramos. Amém.

Comments

Post a Comment

Popular posts from this blog

A Falsa Paz do Cavaleiro Branco – Apocalipse 6:1-3

Uma Introdução ao Capítulo 8 de Romanos: A Liberdade em Cristo

A Queda do Homem: O Pecado de Adão e Sua Transmissão à Humanidade