Quando Ouvimos a Voz Errada, Costuramos a Vida Errada
“⁶ …e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. ⁷ Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira e fizeram para si aventais.”
(Gênesis 3:6–7)
Eva foi a primeira a ouvir. E, vamos ser honestos, ela ouviu aquilo que jamais deveria ter entrado por um ouvido… e muito menos ter saído pela boca. Afinal, a primeira tragédia humana começa com um “bate-papo” que jamais deveria ter existido.
E o curioso é que Eva não apenas ouviu — ela também serviu o lanche proibido. Como quem oferece um pedaço de bolo dizendo: “Prova um pouquinho, amor… só pra ver qual é.”
E Adão? Ah, Adão… não fez perguntas, não pediu bula, não cheirou o fruto… só comeu. A primeira “comida de casal” registrada na Bíblia — e justamente a pior refeição da história da humanidade.
Antes de os olhos se abrirem: inocência sem culpa
Antes desse momento, Adão e Eva viviam em algo que poderíamos chamar de inocência consciente, não ignorância.
Eles eram perfeitamente lúcidos — nomeavam animais, trabalhavam o jardim, se comunicavam com Deus — mas não conheciam o mal por experiência, apenas pela advertência divina.
Era uma vida:
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Sem culpa, porque não havia pecado.
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Sem vergonha, porque nada deles precisava ser escondido.
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Sem segundas intenções, porque o coração era puro.
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Sem justificativas, porque não havia nada para justificar.
Não é que eles não sabiam que estavam nus — eles sabiam. O ponto é: a nudez não os acusava.
Não havia distorção. Não havia impureza. Não havia medo.
Viviam em um estado que nós só conseguimos imaginar.
Quando os olhos se abriram: mas não do jeito que pensaram
Quando o texto diz: “foram abertos os olhos de ambos”, não significa que eles finalmente ganharam iluminação espiritual ou descobriram seu “potencial oculto”, como a serpente havia sugerido.
Significa que:
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A luz apagou e a escuridão acendeu.
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A glória se foi e a vergonha entrou.
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O que antes era natural tornou-se ameaçador.
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O que antes era puro agora parecia sujo.
Eles não se tornaram “como Deus”;
eles se tornaram como seres humanos caídos.
O que abriu os olhos deles não foi sabedoria — foi culpa.
A consciência despertou, mas não para a verdade que liberta: despertou para a acusação que corrói.
Por que coseram folhas de figueira? O primeiro reflexo pecaminoso
E então vem o ato mais humano — e, ao mesmo tempo, o mais trágico — de toda a narrativa:
“…coseram folhas de figueira e fizeram para si aventais.”
Aventais!
Sim, aventais. O primeiro projeto de “faça você mesmo” da história.
O primeiro artesanato.
A primeira máscara.
O primeiro disfarce.
A primeira tentativa de autoproteção.
Por quê?
Porque agora:
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Eles tinham algo a esconder.
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Eles tinham medo do que o outro via.
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Eles tinham vergonha do que eram.
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Eles tentavam controlar sua própria aparência.
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Eles queriam resolver sozinhos aquilo que só Deus poderia resolver.
O avental de folhas de figueira é a imagem perfeita do pecado:
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frágil,
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temporário,
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incapaz de solucionar o problema real,
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mas muito bem costurado, porque somos ótimos em maquiar o que não queremos tratar.
As folhas de figueira representaram o que fazemos até hoje:
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“Eu estou bem.”
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“Eu dou conta.”
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“Eu posso me cobrir.”
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“Eu posso lidar com isso sozinho.”
Mas Deus olhou para aquilo e disse — em outras palavras —:
“Não funciona. Não cobre. Não cura.”
Só Deus fornece vestes que realmente cobrem a vergonha (Gênesis 3:21).
E Ele só as dá por meio do sacrifício, anunciando desde o Éden que a graça sempre custa sangue… mas nunca o nosso.
Conclusão: quando ouvimos a voz errada, costuramos as roupas erradas
Eva ouviu a voz errada.
Adão seguiu a ação errada.
E o resultado foi uma vergonha que nenhum avental pôde esconder.
O texto não é sobre nudez física.
É sobre a perda da glória.
É sobre a morte da inocência.
É sobre a tentativa humana de lidar com a queda sem a ajuda de Deus.
E continua sendo assim hoje:
toda vez que ouvimos a serpente, que seguimos o desejo, que damos uma mordida no fruto… nossa primeira reação é costurar folhas. Só que Deus continua chamando:
“Onde estás?”
Não porque não sabe onde estamos,
mas porque nós não sabemos mais quem somos
quando tentamos nos cobrir com aquilo que nunca poderá nos vestir.
Senhor nosso Deus,
Tu que sondas os corações e conheces os pensamentos mais escondidos,
aproximamo-nos de Ti com temor e esperança.
Confessamos que muitas vezes seguimos vozes estranhas,
nos inclinamos às sugestões do nosso próprio desejo
e procuramos figueiras para cobrir aquilo que só a Tua graça pode vestir.
Ó Pai misericordioso,
livra-nos de confiar em nossos próprios recursos,
pois nossas obras são folhas secas
que logo murcham diante da luz da Tua santidade.
Veste-nos Tu mesmo com as roupas da justiça de Cristo,
para que não caminhemos nus e envergonhados,
mas revestidos da glória que só o Teu Filho concede.
Ensina-nos a fugir da serpente,
a calar o coração diante das mentiras da carne
e a encontrar prazer apenas na Tua voz.
Dá-nos olhos que vejam a Tua beleza,
ouvidos que escutem o Teu chamado,
e pés prontos para Te obedecer.
Que o Teu Espírito Santo nos mantenha sóbrios, vigilantes e humildes,
para que não estendamos as mãos ao fruto proibido,
mas ao pão da vida que desceu do céu.
Ó Deus eterno,
mantém-nos firmes, quebrantados e dependentes.
E que em cada queda encontremos o caminho de volta,
pois Tu és fiel para restaurar aqueles que confessam e se arrependem.
Recebe-nos como estamos,
transforma-nos como desejas,
e usa-nos para a glória do Teu santo nome.
Amém.


Amém🙏🏼
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